Salvem nosso Patrimônio!
segunda-feira, 8 de março de 2010
Thomas Bruno Oliveira*
O patrimônio histórico e arqueológico brasileiro constitui uma história de gerações do passado. Compete a nós, gerações do presente, segundo a Constituição Brasileira, valorizar e proteger essa história que é avaliada como “recurso cultural finito e irrenovável”. Infelizmente, não é este instinto de proteção que vem ocorrendo na cidade de Campina Grande, a ‘Rainha da Borborema’, no interior da Paraíba.
O patrimônio histórico de Campina não é o mesmo há bastante tempo. É comum em Universidades da cidade, diversas discussões sobre o prejuízo inestimável que, ano após ano, vêm engolindo o passado, a história e a memória campinense. Prédios demolidos, monumentos destruídos e diversos momentos da história da cidade que estão sendo perdidos para sempre.
Não é de hoje que professores e intelectuais denunciam a lástima que vem consumindo o patrimônio de nossa cidade, sem que haja uma ação preventiva ou punitiva para os responsáveis.
Recentemente, perdemos alguns prédios em estilo Neoclássico e Inglês no centro, principalmente na Rua Irineu Jóffily (a antiga rua da Estação); perdemos o prédio da antiga SAMIC (próximo ao Açude Velho, por muito tempo residência da família Rique) que foi totalmente demolido, existindo em seu lugar apenas um amontoado de escombros; a vila operária da empresa têxtil, em Bodocongó, que também foi demolida, sem falar em outras várias edificações e monumentos que desapareceram em épocas de veraneio, quando a cidade está com parte de sua população em deleite no litoral.
Temos acompanhado o definhamento dos antigos armazéns da Estação Velha, sem teto, sem janelas e até as dobradiças vem sendo roubadas, um lugar centenário que abrigou, em outrora, a riqueza da cidade na época do ‘ouro branco’ (o algodão) e que hoje refugia consumidores de entorpecentes. O Cine São José, cinema popular de Campina que evoca a memória de um interessante período da cidade, também está irreconhecível. O Cine Capitólio, outro famoso cinema da cidade, até seu piso de interessantes lajotas já perdeu e só Deus sabe onde se encontra.
Esta semana tem ocorrido outro desastre, uma empresa está cavando o nosso Centro Histórico para a introdução de dutos para telefonia, estão sendo abertas valetas com quase 1mt de profundidade e poços ou bueiros com mais de 2mts.
Foi feito nestes últimos dois dias, uma extensa valeta que cruza a Av. Floriano Peixoto (na altura da Venâncio Neiva) seguindo em paralelo à calçada da Recebedoria de Rendas do Estado até defronte ao Museu Histórico e Geográfico de Campina Grande. Dois poços estão em processo de finalização, um defronte a Biblioteca Municipal, antiga Casa Félix Araújo (Câmara Municipal) e outro bem próximo da Arca Catedral. Tudo isso já está marcado, como uma cicatriz, no rosto de nossa cidade, exatamente onde possuímos um significativo conjunto em estilo art-déco, denominado pela pesquisadora Lia Mônica de ‘art-decó sertanejo’, além do mais, esta área é a mais antiga da cidade, nas cercanias da Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição.
O solo sagrado do epicentro de nossa cidade está sendo remexido, cavado, profanado sem nenhum acompanhamento arqueológico. Neste sedimento, sem dúvidas, há uma infinidade de vestígios de nossos pretéritos habitantes, antigas fundações e estruturas, louças, faianças, objetos de metal e outros vestígios que podem ‘falar’, nos dando informações preciosíssimas sobre a história da cidade, são páginas de um passado que estão sendo rasgadas sem mesmo terem sido lidas.
A legislação vigente impõe um acompanhamento em obras como esta onde é empreendido um salvamento arqueológico, da mesma forma que está ocorrendo na Praça Rio Branco, no Centro Histórico de João Pessoa, onde desde o último dia 25 de janeiro está havendo um levantamento arqueológico no lugar, que foi o centro político e econômico da Província durante mais de 300 anos, ali já foram encontradas faianças finas, porcelanas e terracota utilitárias, provavelmente dos séculos XVII e XVIII. Os trabalhos estão sob responsabilidade do arqueólogo Iago Albuquerque e vem trazendo uma série de informações acerca do passado da capital.
Portanto, por que em Campina Grande não está acontecendo o mesmo? Por que não se tem o mesmo cuidado? Até quando nosso patrimônio será perdido? SALVEM NOSSO PATRIMÔNIO!
*Professor de História em Campina Grande
O patrimônio histórico e arqueológico brasileiro constitui uma história de gerações do passado. Compete a nós, gerações do presente, segundo a Constituição Brasileira, valorizar e proteger essa história que é avaliada como “recurso cultural finito e irrenovável”. Infelizmente, não é este instinto de proteção que vem ocorrendo na cidade de Campina Grande, a ‘Rainha da Borborema’, no interior da Paraíba.
O patrimônio histórico de Campina não é o mesmo há bastante tempo. É comum em Universidades da cidade, diversas discussões sobre o prejuízo inestimável que, ano após ano, vêm engolindo o passado, a história e a memória campinense. Prédios demolidos, monumentos destruídos e diversos momentos da história da cidade que estão sendo perdidos para sempre.
Não é de hoje que professores e intelectuais denunciam a lástima que vem consumindo o patrimônio de nossa cidade, sem que haja uma ação preventiva ou punitiva para os responsáveis.
Recentemente, perdemos alguns prédios em estilo Neoclássico e Inglês no centro, principalmente na Rua Irineu Jóffily (a antiga rua da Estação); perdemos o prédio da antiga SAMIC (próximo ao Açude Velho, por muito tempo residência da família Rique) que foi totalmente demolido, existindo em seu lugar apenas um amontoado de escombros; a vila operária da empresa têxtil, em Bodocongó, que também foi demolida, sem falar em outras várias edificações e monumentos que desapareceram em épocas de veraneio, quando a cidade está com parte de sua população em deleite no litoral.
Temos acompanhado o definhamento dos antigos armazéns da Estação Velha, sem teto, sem janelas e até as dobradiças vem sendo roubadas, um lugar centenário que abrigou, em outrora, a riqueza da cidade na época do ‘ouro branco’ (o algodão) e que hoje refugia consumidores de entorpecentes. O Cine São José, cinema popular de Campina que evoca a memória de um interessante período da cidade, também está irreconhecível. O Cine Capitólio, outro famoso cinema da cidade, até seu piso de interessantes lajotas já perdeu e só Deus sabe onde se encontra.
Esta semana tem ocorrido outro desastre, uma empresa está cavando o nosso Centro Histórico para a introdução de dutos para telefonia, estão sendo abertas valetas com quase 1mt de profundidade e poços ou bueiros com mais de 2mts.
Foi feito nestes últimos dois dias, uma extensa valeta que cruza a Av. Floriano Peixoto (na altura da Venâncio Neiva) seguindo em paralelo à calçada da Recebedoria de Rendas do Estado até defronte ao Museu Histórico e Geográfico de Campina Grande. Dois poços estão em processo de finalização, um defronte a Biblioteca Municipal, antiga Casa Félix Araújo (Câmara Municipal) e outro bem próximo da Arca Catedral. Tudo isso já está marcado, como uma cicatriz, no rosto de nossa cidade, exatamente onde possuímos um significativo conjunto em estilo art-déco, denominado pela pesquisadora Lia Mônica de ‘art-decó sertanejo’, além do mais, esta área é a mais antiga da cidade, nas cercanias da Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição.
O solo sagrado do epicentro de nossa cidade está sendo remexido, cavado, profanado sem nenhum acompanhamento arqueológico. Neste sedimento, sem dúvidas, há uma infinidade de vestígios de nossos pretéritos habitantes, antigas fundações e estruturas, louças, faianças, objetos de metal e outros vestígios que podem ‘falar’, nos dando informações preciosíssimas sobre a história da cidade, são páginas de um passado que estão sendo rasgadas sem mesmo terem sido lidas.
A legislação vigente impõe um acompanhamento em obras como esta onde é empreendido um salvamento arqueológico, da mesma forma que está ocorrendo na Praça Rio Branco, no Centro Histórico de João Pessoa, onde desde o último dia 25 de janeiro está havendo um levantamento arqueológico no lugar, que foi o centro político e econômico da Província durante mais de 300 anos, ali já foram encontradas faianças finas, porcelanas e terracota utilitárias, provavelmente dos séculos XVII e XVIII. Os trabalhos estão sob responsabilidade do arqueólogo Iago Albuquerque e vem trazendo uma série de informações acerca do passado da capital.
Portanto, por que em Campina Grande não está acontecendo o mesmo? Por que não se tem o mesmo cuidado? Até quando nosso patrimônio será perdido? SALVEM NOSSO PATRIMÔNIO!
*Professor de História em Campina Grande