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O teleférico da Paraíba

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Juvandi de Souza Santos*

A Paraíba é realmente única no mundo. De tudo tem ou já teve por estas plagas. Até um teleférico tivemos nos idos dos anos 60 e 70 do século XX, cruzando os canyons do rio Paraíba.

Trata-se de um teleférico montado pelo Departamento de Obras Contra as Secas (DNOCS) para transpor homens, máquinas e matérias-primas diversas de um lado a outro do velho Paraíba, quando este, em época de chuvas, fica intransponível para pedestres e veículos.

O teleférico foi montado no período em que a Rodovia BR-104 estava em construção. Lá, nesse local, existe gravado numa velha parede de pedra e cimento a data de 1969, possivelmente quando o teleférico começou a funcionar.

O local é belíssimo: canyons, vegetação de caatinga arbórea/arbustiva, água no rio, pequenas praias e o que sobrou do velho teleférico: ferros contorcidos, restos das máquinas e algumas estruturas em pedra e cimento que mais parecem velhos bunkers nazistas da famosa Muralha do Atlântico, na Normandia, França.


Como tudo que é histórico na Paraíba, o local, outrora de riqueza e histórias mil, encontra-se abandonado, destruído, literalmente TOMBADO (ao chão mesmo). Em um país onde se valoriza o turismo e os bens materiais históricos/arqueológicos, sem dúvida que o velho teleférico seria um importante ponto turístico na pobre região da comunidade de Curimatã, distante cerca de 5Km da cidade de Barra de Santana.

Realizamos no local uma rápida garimpagem arqueológica onde ficava o maquinário e algumas casa construídas pelo DNOCS (hoje existentes apenas as estruturas dos alicerces), bem como, barracões para a guarda de materiais dos que ali trabalhavam na possível usina de concretagem, uma linda e majestosa guarita que acaba por se transformar num belo mirante, e o que encontramos: faiança, metais, cerâmica, tijolos, fragmentos de telhas, tubos de cimento, restos de estruturas, paredes, vidro, etc. Em suma, um rico material arqueológico que serve para contar um pouco da história da opulência do período.

Quem passa pela BR-104 com destino a Caruaru ou Santa Cruz do Capibaribe (em PE), nem imagina que nas proximidades da ponte sobre o rio Paraíba, em seu solo e subsolo, guarda-se um pouco da história da construção dessa importante BR e, que, lamentavelmente, como tudo que é histórico na Paraíba, caiu no esquecimento. Esses locais de rara beleza não são mais nem lembrados pelos moradores da região. São poucos aqueles que nos informam o que era e para que servia o local. Da mesma forma, vivemos uma efervescência de discursos políticos que enaltecem o turismo na Paraíba. No entanto, são meros discursos, pois, no geral, esses políticos não conhecem esses lugares.

A História da Paraíba, em Curimatã, está caindo aos pedaços, carcomida pela ferrugem e a desordem. Visitem Curimatã, antes que tudo, literalmente falando, seja tombado.

*Pós-Doutor em Arqueologia, Professor do Dept. de Geo-História da UEPB, Vice-Presidente da SPA.
Imagem: O motor do teleférico (acima), a guarita (no centro), material arqueológico encontrado no lugar (abaixo)

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